A trajetória de vida de Florestan Fernandes*
Ao revisitar a obra do autor, estou ao mesmo tempo relembrando sua trajetória de vida muito especial: filho de uma lavadeira portuguesa, que, segundo alguns biógrafos, era analfabeta, Florestan teve uma infância dura e trabalhosa. Freqüentou apenas três anos regulares do ensino primário em São Paulo, trabalhando paralelamente aos estudos como engraxate, biscateiro, auxiliar de garçon, entregador de remédios a domicílio, entre outras atividades. No final da década de 1930 fez seu exame de madureza (ginásio e colégio), e, em 1941, deu início aos seus estudos em ciências sociais (antropologia e sociologia) na USP. Seus professores foram Roger Bastide, Emílio Willems, Radcliff-Brown, Donald Pierson, entre outros. Formou-se em 1945 e foi convidado a trabalhar como assistente na cadeira de Sociologia da USP, até então ocupada por Roger Bastide, a qual assumiu como titular em 1964, por indicação de seu mestre. Cinco anos depois foi destituído desse cargo, pelo AI-5 do regime militar, sendo aposentado compulsoriamente. O mesmo destino tiveram Fernando Henrique Cardoso, Otávio Ianni, entre vários outros colegas da USP e de outras universidades públicas brasileiras. Nessa ocasião, Florestan Fernandes tinha 45 anos e estava no auge de sua carreira intelectual e acadêmica. No início dos anos de 1970 aceitou convite da Universidade de Toronto no Canadá, onde acabou sendo nomeado professor titular. Voltou para o Brasil por razões pessoais em 1973. Proibido pelos militares de lecionar, coordenou para a Editora Ática a série "Grandes Cientistas Sociais", procurando sobreviver como podia. Havia rejeitado convites para trabalhar nos USA, na Alemanha e até mesmo no Cebrap, fundado com auxílio de recursos da Fundação Ford pelos cientistas sociais cassados, entre eles seus ex-alunos Fernando Henrique Cardoso, Arthur Gianotti e José de Souza Martins. Suas razões foram políticas: não trabalharia para instituições financiadas com recursos americanos, pois atribuía aos EUA a iniciativa de iniciar e sustentar o golpe militar no Brasil.
Com a criação do PT na década de 1980, recebeu convite do próprio Lula para afiliar-se ao partido, mas somente aceitou o convite quando este lhe explicou que não seria o partido que o financiaria e sim o sociólogo, que financiaria o partido, no qual então entrou em 1986. Neste mesmo ano foi eleito Deputado Federal pelo PT de São Paulo. Ajudou a elaborar a Constituição de 1988 em Brasília e foi reeleito por mais um período parlamentar. Apesar da insistência do Partido, não se candidatou por uma terceira vez, alegando motivos de saúde. Morreu em agosto de 1995, alguns dias depois de completar setenta e cinco anos, vítima, segundo consta, de erro médico ou negligência hospitalar, depois de um transplante de fígado.
(...) Fernandes percebera, na própria carne, que o indivíduo mesmo altamente dotado e consciente para fazer o diagnóstico correto do seu tempo, não tem poder de transformação da sociedade como indivíduo isolado. Seu potencial de transformação da realidade global depende de conjunturas e tendências internacionais, nas quais o indivíduo singular submerge, sem poder de intervenção ou transformação. Ao apoiar-se em conceitos como "modo de produção capitalista", "imperialismo", "relações de produção" tem consciência de que se trata de fenômenos históricos que acontecem independentemente das vontades individuais e que se precipitam como avalanches, über die Köpfe der Individuen hinweg (Marx), "por cima de nossas cabeças".(...)
(...) Em sua terceira fase de produção (já como membro do PT e da Câmara) Fernandes nunca mais voltaria a trabalhar numa instituição de ensino superior. Em conversas e cartas exprimia seu desprezo pela burocratização da universidade e pelo carreirismo egocêntrico da maioria dos professores e pesquisadores, que repassavam essas atitudes às novas gerações de universitários. Os anos em que acreditara poder mudar a sociedade brasileira a partir de um conhecimento científico profundo da realidade com auxílio da ciência, da educação e do planejamento (categorias emprestadas à Mannheim) estavam perdidos para sempre.
*extraido do artigo "Florestan Fernandes: revisitado " de Barbara Freitag ( professora titular do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB) e professora livre-docente da Universidade de Berlim, Alemanha) , http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142005000300016
2 comentários:
olá pessoas da ciencias sociais!
viemos aqui desejar a todos um ótimo 2009 e que em breve possamos construir algo de significativo para a comunidade acadêmica!
Estamos adicionando vocês, caso queiram façam o mesmo!
abraços
belíssimo blog, e acho que aqui é o lugar ideal para posta a seguinte matéria:
A OSCIP Associação Biblioteca Comunitária Maria das Neves Prado (Biblioteca do Paiaiá - http://sites.google.com/site/obcmnp/home e http://bibliotecadepaiaia.blogspot.com/) comprometida com o desenvolvimento da educação brasileira e com o futuro dos nossos jovens informa: jovens de ambos os sexos e acima de 18 anos de idade leiam com atenção a notícia abaixo:
MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES INSTITUTO RIO BRANCO
O INSTITUTO RIO BRANCO (IRBr) e o CONSELHO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO (CNPq) estabelecem as normas e tornam pública a realização de Processo Seletivo para o “Programa de Ação Afirmativa do Instituto Rio Branco – Bolsa-Prêmio de Vocação para a Diplomacia”, que conta com a participação da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e da Fundação Cultural Palmares.
Cargo
Bolsa-Prêmio de Vocação para a Diplomacia.
Vagas
Bolsa-Prêmio de Vocação para a Diplomacia R$25.000,00.
Obs.: ESTE ANO as inscrições já estão encerradas, mas é importante a divulgação para que os candidatos comecem a se preparar para a seleção de 2011 em diante. O intreressado pode também procurar no Google mais informações sobre bolsas de estudo, carreiras profissionais nas suas áreas de interesse.
Os interessados podem acessar o site: http://www.cespe.unb.br/concursos/irbrbolsa2010/arquivos/EDITAL_DE_ABERTURA___IRBR_BOLSA_2010___01.11.2010.PDF
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